Eu fiz esta entrevista com o Rafael Sette Câmara porque ele é um nômade digital, ou seja, não depende de um lugar físico para ganhar dinheiro e por isso agora pode viajar o mundo como quer. Ele percebeu que o trabalho "convencional" não era mais sua praia. E por falar em praia, agora ele pode trabalhar na frente de uma se quiser.

Mas ele não conseguiu essa liberdade sozinho - a ideia de criar um site veio a partir de uma viagem que fez a Índia junto com a Natália Becattini e a Luíza Antunes. Para documentar o desafio (se você já foi a Índia sabe como é desafiador!), juntos fundaram o blog 360meridianos.

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Os 3 em Praga, República Checa
Os 3 em Praga, República Checa

Depois de muito trabalho dedicado, o blog começou a gerar renda suficiente para manter os 3 na estrada em tempo integral. Confira a entrevista: 

Obrigado pelo seu tempo em ceder esta entrevista!

Minha missão é mostrar às pessoas como podem viajar mais. Como? Através da partilha de histórias reais e estratégias sobre como economizar e ganhar na estrada.

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Por isso minhas perguntas serão mais relacionadas a tais assuntos, ok?

Começando...

Em breve serão 2 anos vivendo em diferentes partes do mundo como nômades digitais. Como se sentem?

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Na realidade, estamos como nômades digitais há um ano, embora a vida nômade tenha começado em 2011. A diferença é que antes tínhamos empregos fixos - trabalhamos assim em São Paulo, BH e na Índia.

Desde junho do ano passado a coisa mudou: continuamos com o nomadismo, mas agora o trabalho é todo pela internet.

Me sinto muito bem. É uma realização pessoal enorme, já que eu não me adaptava ao modelo de trabalho tradicional e odiava ficar preso 8 horas por dia no escritório das empresas, principalmente ao perceber que passava a maior parte dessas 8 horas sem fazer nada, já que nenhum dos meus empregadores tinha tanta demanda assim.

A vida de um blogueiro de viagem ... Não é coquetéis na praia e piqueniques a todo momento, certo? Como é um dia produtivo na vida de vocês? E quais seus principais hábitos diários?

Verdade, não é. A grande questão é a da mobilidade, mas a gente não para de trabalhar. De forma geral, quando estamos numa cidade nova que ainda não conhecemos, trabalhamos numa parte do dia - a manhã, por exemplo - e depois saímos para conhecer a cidade. Rendemos muito mais profissionalmente, afinal é do nosso interesse produzir mais rápido para curtir o novo destino.

É muito comum que a imagem do nômade digital seja a do sujeito que está com um notebook na beira da praia, trabalhando. Isso é meramente ilustrativo. Não funciona assim. Eu posso até estar numa cidade de praia, mas vou trabalhar do quarto do hotel. Quando estiver na praia, curto a praia. Imagina trabalhar com areia, sol na tela do computador, gente bebendo uma cerveja ao seu lado? Não seria produtivo.

A única renda de vocês é através do site 360meridianos, certo? Como ganham dinheiro para manter a viagem?

Praticamente a única. Durante um tempo, quando o 360 ainda não dava tanto retorno, tínhamos frilas, que pagavam a maior parte das contas. Hoje os (poucos) frilas que restaram representam a menor parte do dinheiro. E estamos largando todos eles aos poucos.

Eu diria que hoje o 360 paga 90% do meu salário. Faz isso por meio de publicidade, de venda de produtos (tipo e-books produzidos pela equipe do blog) e por meio de programa de afiliados. Por exemplo, ganhamos uma comissão quando algum leitor vai viajar e reserva o hotel online, a partir do 360.

Poderiam contar um pouco a relação do tempo investido no projeto até o momento que o mesmo começou a gerar renda suficiente para manter os dois na estrada?

(observação: na realidade, hoje o 360 mantém 3 blogueiros na estrada - a renda da Luíza Antunes, outra autora, também sai toda do blog)

Respondendo a pergunta: criamos o 360meridianos em outubro de 2011. Quando terminamos nossa viagem de volta ao mundo, em julho de 2012, decidimos profissionalizar o blog. Nessa época a frequência de posts aumentou e o blog começou a dar algum dinheiro, mas era muito pouco.

Quando largamos nossos empregos de carteira assinada, no segundo semestre de 2013, passamos a nos dedicar de forma integral ao 360. Os resultados melhoraram muito a partir desse momento. Mas foi só em 2014 que o 360 começou a pagar um salário digno para cada um de nós, comparável ao que ganharíamos no mercado tradiconal.

Ou seja, foram mais de dois anos até o blog até dar dinheiro mesmo. E muito, mas muito trabalho. Temos reuniões de pauta semanais, um planejamento de posts que cobre os próximos dois meses e várias tarefas para cuidar. Dá muito trabalho. Mas vale a pena.

[Atualização] Bárbara Mangieri fez uma pergunta em um grupo no Facebook: Você disse na entrevista que o sustento do blog vem através de publicidade, e-books e afiliados. Gostaria de saber, entre os três, qual rende mais?

Natália Becattini respondeu: fica alternando entre afiliados e publicidade, mas estamos crescendo também com os e-books.

Muita gente sonha em ser um nômade digital. Quais as principais dicas para quem quer trabalhar e viajar ao mesmo tempo?

Encontrar um caminho que tenha sentido para você. Vejo muita gente criando blog de viagem, talvez querendo seguir os passos de quem conseguiu. Mas é preciso ter em mente que essa não é a única forma de ser um nômade digital. E pode não ser a melhor, dependendo da pessoa - se uma pessoa odeia escrever, por exemplo, não tem o menor sentido querer ser nômade digital por meio de um blog de viagem.

Outra coisa é a persistência. Não seja iludido pelo discurso de que é fácil. Não é. Como qualquer empresa ou projeto, é preciso esperar, dar tempo para as coisas crescerem, ter paciência. Por outro lado, também não acredite no discurso que diz que é impossível - não é. Só não dá para esperar que as coisas ocorram num passe de mágica.

Qual o melhor e o pior aspecto na escolha de ser um nômade digital?

O melhor é a liberdade. Pode viajar quando quiser, para o lugar que você quiser. A maior dificuldade é controlar a rotina, garantir que você vai produzir, afinal seu sustento depende disso.

O que mais gostam de fazer, logo que chegam, em novas cidades e países?

Varia bastante. A verdade é que raramente saímos com um roteiro definido, vamos perambulando pelas ruas, descobrindo as coisas aos poucos.

Poderiam contar um pouco dos planos futuros? Talvez novos projetos, países e/ou desafios?

Eu e a Naty vamos para a Argentina na segunda-feira. Adiamos essa viagem por meses, afinal queríamos estar aqui no Brasil para a Copa do Mundo. Agora chegou a hora. Ficaremos lá durante o segundo semestre. Primeiro, faremos trabalho voluntário em Buenos Aires. Depois, vamos viajar pelo país. Um curso de espanhol também não está descartado. E nunca deixaremos de trabalhar pelo blog, claro.

A Luíza, também autora do 360, vai começar um mestrado de dois anos em Portugal, em agosto.

Quais os 3 top blogs que segue?

Gosto muito desses:

  1. http://gabrielquerviajar.com.br/
  2. http://www.viaggiando.com.br/
  3. http://www.nerdsviajantes.com/

Vocês incentivam pessoas a viajarem. Por que?

Sem dúvida. É uma forma incrível de conhecer outras culturas, abrir a cabeça para as diferenças do mundo, entender que nosso modo de ver as coisas não é o único possível. Além de ser uma experiência muitas vezes relaxante e fantástica.

Mais uma vez obrigado pela entrevista.
Um abraço e boa jornada!

E você? Quer viajar mais? Deixe nos comentários suas dúvidas, dificuldades, ideias, desejos, enfim, faça parte!